quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ele ou Ela?

Foto retirada do site: http://www.slowdown.com.br/casal-maos-dadas1.jpg

Ela sente falta dos elogios.
Ele sente falta das indiretas.

Ela sente falta dos carinhos nas costas enquanto adormeciam. Ele sente falta dos cabelos dela escorrendo por seus braços enquanto ela dormia, serena, extasiada.

Ela sente falta dos longos abraços.
Ele sente falta do que vinha depois dos abraços.

Ela sente falta de dizer sem pensar tudo que passava pela mente.
Ele sente falta de não pensar enquanto ela falava.

Ela sente falta das noites de alegria e dos dias de espera.
Ele sente falta dos dias e das noites de paz.

Ela sente falta dos sonhos e planos.
Ele sente falta de rejeitar os planos.

Ela sente falta de fazê-lo entender que a vida só vale a pena quando se está com alguém.
Ele sente falta de tentar convencê-la que a vida é apenas momento e não vale a pena desperdiçar procurando 'um alguém'.

Ela sente falta da alma gêmea.
Ele sente falta de querer acreditar que não existe alma gêmea.

Ela sente falta dos amores perdidos.
Ele sente falta dos amores não vividos.

Ela sente falta de acordar cedo, vê-lo dormindo sereno, extasiado, levantar, preparar um chocolate quente e ir pra varanda ver o sol nascer e respirar o ar gelado da manhã. Esperando a companhia dele.
Ele sente falta de nunca ter feito isso com ela.

Ela sente falta das roupas que colocava pra ele ver.
Ele sente falta das roupas que ela tirava, pra ele então vê-la.

Ela sente falta das mãos dele, súbita e suavemente entrelaçando-se nas dela.
Ele sente falta do desejo súbito de suavemente tocar suas mãos.

Ela sente falta da cumplicidade dos diálogos.
Ele sente falta das palavras nunca ditas e cumplicemente entendidas.

Ela sente falta de não querer vê-lo indo pra casa sem ela.
Ele sente falta de não poder ir pra casa com ela.

Ela sente falta do último beijo, antes do fim.
Ele sente falta de não o ter dado.

Ela sente falta dele.
Ele? Bom, ele sente falta. Por isso tudo, ele sente falta dos dois.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Estréia

Como sempre, de manhã ela começa a se revirar. Vira pra um lado, para outro e nada de dormir. Na verade já está de cabeça pra baixo. Talvez achando alguma posição mais confortável. Mas essa não é uma manhã normal, ao menos não como nas últimas 30 e poucas semanas. Sim, ela conta as semanas. As vozes na rua parecem incomodar mais que o normal. Tem alguma coisa estranha e ela não consegue saber o que é. Mas tenta abstrair e voltar a dormir.

De repente, uma movimentação externa a acorda... é como se as paredes estivessem tremendo. A voz feminina de sempre, aquela doce e calma, começa a falar num tom mais ansioso, como se sentisse alguma dor profunda, um tom seco nas palavras, uma objetividade, uma irritação. Realmente, hoje é um dia estranho.

Outra voz, essa por sua vez nunca ouvida, diz que é melhor a moça ir dar um passeio, se acalmar, caminhar pelos corredores, afinal ainda não está na hora. A pergunta é: hora de quê?

Novamente as paredes estremessem. Deve ser algum ônibus ou carro passando.
Ela tenta, inutilmente voltar a dormir.
Digo inutilmente pois, agora muitas vozes na rua se acumulam. Uns falam mais alto que outros, por vezes parece uma briga, em outras um consolo.

Depois de muito tempo lutando, tudo em volta começa a mudar de cor, uma força estranha a empurra (ou será que puxa?).

Então, ela se vê ali, estranhamente gelada, tremendo. Quase num susto, volta a respirar.

É quando tem algo envolvido em seu corpo para aquecer-se. Ela abre os olhos, com medo. A voz - pensa ela. Enxerga, finalmente, a voz que ouvira durante essas últimas longas semanas. Sente seus pés e mãos analisados. Todo o corpo averiguado. E por fim, uma sentença: ela é perfeita.

Foi a primeira vez que alguém disse isso. E, fico feliz que tenha sido a última, logo na minha estréia.

Acordei para o mundo às 22h30min do dia 11/11/1985. Desde então, tenho problemas pra dormir.

Keny Alcalde.
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